3 de jun. de 2011

Só após milhares de mortes, Ibama decide fiscalizar madeireiros do Pará

Em seis dias de fiscalização, cinco madeireiras foram fechadas no entorno de assentamento criado por extrativista morto


Após as mortes do casal de líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em Nova Ipixuna, cidade paraense a 440 quilômetros de Belém, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) intensificou o trabalho de combate às indústrias madeireiras e de extração ilegal de madeira na região.
Em seis dias de fiscalização, cinco madeireiras foram fechadas na área do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, fundado pelo casal de extrativistas. Ao todo, foram aplicados R$ 752,3 mil em multas desde sábado por venda irregular de madeira nativa, inclusão de dados falsos no Sisflora, o sistema estadual que controla a compra e venda de produtos florestais no Pará, entre outros crimes ambientais.
Além disso, o Ibama também já destruiu dezenas de fornos ilegais de carvão e multou assentados que também exploravam a floresta de maneira irregular dentro da área da reserva do projeto. Durante as operações, já foram flagrados pelo menos 108 m³ de madeira extraída de forma ilegal nos pátios das empresas autuadas.

Foto: Divulgação
José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, mortos nesta no Pará
Segundo informações dos fiscais do Ibama na região de Nova Ipixuna, algumas das madeireiras que estão sendo multadas nessa operação montada após a morte dos extrativistas são reincidentes.
“Desde 2006, todas as madeireiras de Nova Ipixuna já foram multadas diversas vezes pelo Ibama. Não houve uma única que não foi fiscalizada, autuada e teve produtos florestais ilegais apreendidos. Os fiscais, porém, estão constatando que as irregularidades na comercialização de madeira continuam. Seremos ainda mais rigorosos”, disse o coordenador da operação em Nova Ipixuna, Marco Vidal, por meio da assessoria de imprensa do órgão.
Um exemplo foi a Serraria Tico-Tico Ltda, que foi multada pelo Ibama 18 vezes em 13 anos (1997-2010). No ano passado, ela foi embargada e, na manhã desta quarta-feira, a empresa foi multada em R$ 30 mil por descumprimento de embargo, venda irregular de madeira e por fraude no sistema de créditos florestais do governo do Estado do Pará.
Outro caso foi a S. C. Santos Madeira Ltda, multada também nesta quarta-feira em R$ 117 mil por extração ilegal de madeira e descumprimento de embargo. No pátio da empresa, foram encontrados 55 m³ de madeira ilegal. A companhia já havia sido multada duas vezes, em 2008 e 2009. As duas empresas não foram encontradas pelo iG.
O Ibama identificou na região 13 pontos de extração seletiva de lenha, 14 áreas desmatadas e 120 fornos em atividade para a produção ilegal de carvão vegetal na área do assentamento Praialta-Piranheira. O assentamento tem uma área de 22 mil hectares - uma área maior que a cidade de Recife (PE).

Limpeza
Por causa da participação de alguns assentados na extração ilegal de madeira, o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, promete uma espécie de "limpeza moral" no assentamento Praialta-Piranheira.


É uma questão complexa. As pessoas não derrubam a floresta simplesmente porque querem. Existe um problema financeiro envolta. Se esses assentados tivessem uma renda melhor, provavelmente não precisariam se aliar aos madeireiros”, diz promotor
O diretor da CNS Belém, Atanagildo Matos, confirmou que alguns moradores do assentamento tem envolvimento com madeireiros e carvoeiros da região. Ele afirmou que, após investigações, pedirá a expulsão destes membros envolvidos com o comércio ilegal de madeira. “Extrativista não pode ter ligação com madeireiro.Isso é imoral”, disse Matos. “Pela memória de José Cláudio, precisamos tirar as pessoas que não conseguem preservar a terra da região”, declarou. Não se sabe hoje quantas, das 500 famílias que vivem no assentamento, tem ligação com madeireiros ou carvoeiros da região nem como será feita essa investigação.

Na semana passada, o representante do Ministério do Meio Ambiente, o promotor Roberto Ricardo Vizentin, afirmou que existia um "esquema criminoso" de extração de madeira no assentamento que envolvia alguns dos moradores. Mas ele relativizou o problema afirmando que muitos dos assentados buscam esse alternativa como uma forma de complementar renda. “É uma questão complexa. As pessoas não derrubam a floresta simplesmente porque querem. Existe um problema financeiro envolta. Se esses assentados tivessem uma renda melhor, provavelmente não precisariam se aliar aos madeireiros”, defendeu Vizentin.

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